domingo, 2 de outubro de 2011

Tango Simbiótico


Momentos de rara beleza, privilegiadamente observados ao ínfimo pormenor atribuindo-se-lhes o tempo que merecem, entram na esfera da não perda de tempo.
Balançado pelo embalo dos carris, primeira fila e olhos postos num ecrã natural, ao longe o toque da doçura avermelhada do Astro o qual se diz ser Rei, lentamente comungando com o azul imenso e misterioso, na forma de um corpo uno, tango simbiótico e arrebatador.
Dois mundos que se entregam diariamente aos encantos da luxúria, sem que nunca sejam assolados pelo cansaço, jamais enjoados um do outro, como quem anuncia o breu da tristeza do tempo, ainda que breve, em que o seu abraço se desfaz.
No esplendor da sua eterna paixão, mostram-se em toda a sua plenitude, sem vergonha ou pudor, gritando o quanto se sentem alheados de tudo o que os rodeia, suficientemente arrojados para não se esconderem.
Outros momentos têm lugar na frieza de uma menor intensidade, recolhendo-se pois, ao recato da privacidade e não deixando terceiros intrometerem-se, nos quais apenas fica o vislumbre de breves trechos fugazes, prova circunstancial da continuidade da sua dança em uníssono.

Sem comentários: